Concepção, construção e a importância do documento para as ações de enfrentamento do Colégio
O Colégio João XXIII, através do Serviço de Orientação e Psicologia (SOP), formou seus profissionais através de cursos, consultou advogados, entre eles o Lucio Almeida da UFRGS, delegados, equipe técnica (coordenação, orientação e de psicologia da escola) e o Conselho Tutelar para elaborar um protocolo alicerçado em todas as esferas, amparado por leis que não ferem a integridade dos nossos profissionais, jovens e crianças e que estabelece diretrizes para o enfrentamento ao racismo.
Com o intuito de alinhar as premissas do que constava no código de convivência do estudante, a escola buscou a ajuda de uma consultoria jurídica, que pudesse auxiliar na melhoria do nosso protocolo antirracista. Isso ocorreu, a partir da recomendação da representante do Grupo de Trabalho (GT) de enfrentamento ao racismo, Maíra Suertegaray, mãe no João XXIII, integrante da Comissão Antirracista e professora e integrante da Comissão de Ações Afirmativas no Colégio de Aplicação da UFRGS. Para desenvolver esse documento tão importante, o SOP se reuniu algumas vezes com o GT da Comissão Antirracista para qualificar o documento existente, assim como os atendimentos às vítimas de situações de preconceito racial e a entender e compreender como isso poderia ser melhorado e trabalhado. O GT é composto por profissionais e familiares de estudantes do nosso Colégio, assim como a Maíra, mencionada anteriormente, e a Camille Pasqualotto, mãe do Colégio.
A Maíra passou a integrar a comunidade escolar em 2022 e desde então participou de atividades ligadas às questões antirracistas, como o coletivo antirracista (que posteriormente deu origem à Comissão Antirracista em 2023). Como ela trazia na bagagem uma vivência, dentro da Comissão de ações afirmativas do Colégio de Aplicação da UFRGS, sobre o enfrentamento de violências raciais, de classes e o capacitismo, pode contribuir para a construção do Protocolo de encaminhamento: Violência Racial do Núcleo da Juventude.
“Eu considero essencial a criação do protocolo porque é uma maneira concreta de lidar com a questão do racismo, capacitismo e das violências de um modo geral. Ele é importante para mostrar que aqui no João não será tolerado qualquer tipo de violência e que todos estão atentos, famílias, comunidade escolar e profissionais. E, se presenciarem ou ouvirem alguma violência, vão agir, no sentido de fazer os encaminhamentos que estão ali postos no protocolo, trazendo segurança para a família de que se algo acontecer com alguma criança, jovem ou funcionário, o Colégio agirá”, disse Maíra Suertegaray.
Assim como a Maíra, a Camille também entrou para o João XXIII em 2022. Ela se interessou em matricular a filha, justamente pela existência do coletivo antirracista e da participação e envolvimento das famílias, um dos pontos fortes do Colégio. Além do coletivo, Camille participou de grupos de leitura, reuniões e outros movimentos. E, foram nas reuniões entre Comissão e SOP, que os integrantes falaram sobre suas experiências relacionadas ao tema. Inclusive, as famílias e estudantes também foram ouvidos para a construção do documento para que futuramente fosse feito o encaminhamento necessário para o acolhimento e recebimento correto da vítima e da pessoa que cometeu o ato.
“O protocolo visa um acolhimento às vítimas, porque a gente percebia que se investia muito tempo cuidando do agressor, que ficava com esse estigma de preconceituoso e pouco tempo para a vítima e às famílias. Esse protocolo marca o posicionamento institucional do colégio para o avanço dessas políticas antirracistas do João e para que as famílias saibam que essas situações/condutas não serão toleradas”, de acordo com a Camille.
A psicóloga escolar Vanessa, destaca que quando passou a integrar a equipe de profissionais do Colégio, observou no card de divulgação da vaga, tratar-se de uma vaga afirmativa para profissionais negros, pardos e indígenas. Ao apropriar-se melhor das ações da escola, tomou conhecimento da existência do coletivo antirracista que era composto por pais negros, que tinha como objetivo fomentar a leitura e a cultura afro. Ela explica que desse fomento surgiu o coletivo antirracista que criou ações, como por exemplo o Clube de Leitura e posteriormente a criação da Comissão Antirracista de forma institucional. Desta maneira, a temática antirracista passou a ter um caráter instituído como um compromisso permanente de uma escola que se pretende ser e seguir mantendo ações antirracistas e de compromisso com essa causa tão importante na esfera social e especialmente relevante para a comunidade escolar do João XXIII. Nesse ano, a partir de um esforço coletivo do SOP e da Comissão Antirracista, foi possível perceber o fortalecimento dos cuidados, para que o nosso Protocolo Antirracista pudesse ser publicizado amplamente na nossa comunidade, como mais uma forma de tentar conscientizar e diminuir as práticas de discriminação racial. Após se apropriar de todos os documentos administrativos e pedagógicos, Vanessa observou que o João tinha uma proposta musical com instrumentos afrodescendentes como por exemplo o sopapo, utilizado para enfatizar a música afro. E, na área de linguagens o João conta com referências de origem afro e indígena. Ela destaca que:
“O Colégio é diferenciado no que diz respeito ao combate de todos os tipos de preconceito, começando pelo letramento racial e a formação específica sobre ERER (Educação para as relações étnico-raciais) dos profissionais do João. Em 2023, todos eles receberam de presente da instituição o livro “Como ser um educador antirracista” da escritora e professora Bárbara Carine, referência nacional sobre letramento racial e fundadora da escola Maria Filipa, primeira escola afrocentrada do nosso país. E, no ano seguinte, em 2024, Bárbara esteve conosco presencialmente, como palestrante na noite do dia 18 de outubro, no Seminário em comemoração aos 60 anos do João XXIII, intitulado Educação em Tempos de Reparação, marcando esse momento histórico do Colégio João XXIII“.
A necessidade de criar um protocolo se deu a partir dos anseios de seus membros, já que ele existia como uma medida socioeducativa dentro Código de Convivência dos Alunos. Nesse ano, o protocolo foi publicado no site da escola, onde também estão os documentos orientadores de todos os educadores.
Precisamos nos fortalecer como comunidade e a ter, todos os dias, um olhar qualificado e ouvido muito atento para o que está acontecendo e acima de tudo agir, entrar em ação e fazer valer o Protocolo Antirracista e seu encaminhamento. Porque isso é cuidar dos nossos profissionais, jovens e crianças. Educar e fortalecer aqueles que em algum momento foram vítimas de preconceito.
É necessário continuar a qualificar a atuação porque infelizmente o preconceito racial e outras situações de violência acontecem não somente em sala de aula, mas em diversos espaços coletivos (cantina, biblioteca, laboratórios e demais lugares de convívio em comunidade).
Estamos caminhando para uma conscientização e uma postura antirracista, com cuidados redobrados para que as situações envolvendo preconceito não aconteçam e que saibamos encaminhar e acolher da melhor forma de acordo o Protocolo Antirracista.
O Protocolo Antirracista está em constante atualização. Para saber mais sobre ele, acesse o Anexo 1, na página 8 do Código de Convivência:
Por Renata Lages A. Eberhardt