Pesquisadora fez um resgate histórico da instituição na quarta-feira (21) em evento que fez parte das comemorações dos 60 Anos da Escola
Com o título “Educação Democrática é o compromisso que nos reúne”, a Professora Doutora Maria Beatriz Luce participou de um encontro de formação para os Profissionais da Escola na noite dessa quarta-feira (21). Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Luce, cujo primeiro emprego foi no Colégio João XXIII, onde atuou por quatro anos, esteve a convite do presidente da Fundação, José Carlos Monteiro da Conceição. “É uma honra, para uma Professora, voltar a uma Escola onde ela já trabalhou”, disse ela, que iniciou sua vida profissional como Professora do 5º Ano.
Luce comenta que ser docente é assumir um desafio histórico, sendo importante a construção de uma coletividade entre os educadores. “A educação democrática é o que nos une e é compromisso que nos reúne aqui hoje”. Logo no início, a pesquisadora realizou um apanhado histórico do surgimento do Colégio, destacando que o contexto pós-Segunda Guerra Mundial representou um momento de reorganização das estruturas de base social. Ressaltou o papel de uma das fundadoras da Escola, Zilah Totta, que se reuniu ao seu então assessor na Secretaria Estadual de Educação, Frederico Lamachia, a Lília Rodrigues, que era diretora da escola Pio XXII, e à professora Leda Falcão de Freitas, para criar o Instituto Educacional João XXIII, à época.
Na abertura do evento, a Diretora Pedagógica, Paula Poli, destacou o legado e a trajetória de Maria Beatriz Luce na contribuição sobre os estudos em Educação no Brasil. “O legado dessa Professora na democratização ao acesso à Educação e na formação docente é essencial para quem almeja atuar na área”, disse.
Beatriz Luce ingressou no quadro de Profissionais do João em 1968 como Professora do 5º Ano do ensino Primário, quando a Escola ainda era localizada na Avenida João Pessoa. Comentou que a criação do João representou um rompimento com a ordem social vigente. “Nós não queremos fazer uma Escola igual às outras”: esse era o lema que guiava os fundadores do Colégio. O projeto pedagógico sempre valorizou uma educação libertadora, comunitária e democrática. “Eles [Zilah, Frederico, Lilia e Leda] tiveram uma preocupação de criar uma escola laica, ou seja, sem proselitismo religioso, e de ter a ética nas relações sociais.”
Luce diz que, à época de fundação do Colégio, não existia o conceito de escola comunitária, tendo sido o João XXIII inovador nesse quesito. “Escola comunitária é um espaço de coparticipação de poder e das decisões. É não só conhecer a criança, mas também, a família de cada uma”. Enfatizou, assim, o trabalho coletivo entre corpo docente, Profissionais e famílias, na construção do cotidiano escolar e na interdisciplinaridade entre os currículos.
Beatriz conta que a Escola apostava na formação continuada dos Profissionais e que, em determinado momento desse processo de evolução do pensar educativo, ela e suas colegas da época foram desafiadas a definir o que era “currículo escolar”. A resposta encontrada foi: “‘currículo’ são todas e quaisquer atividades para o desenvolvimento das crianças e adolescentes que são planejadas pela Escola. Para sua surpresa, ao viajar aos Estados Unidos para terminar o mestrado na Michigan State University, teve a confirmação de que o João era mesmo uma Escola à frente do seu tempo. Em uma das disciplinas, o professor pediu que escrevessem sobre o currículo escolar. Beatriz compartilhou a resposta construída coletivamente pelas docentes do João e contou que seus colegas norte-americanos ficaram impressionados com a resposta da brasileira.
“Vem vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, a canção “Pra não dizer que não falei das flores”, lançada em LP por Geraldo Vandré em 1968, foi entoada por todas as docentes na casa alugada que servia de sede do Colégio João XXIII. Era uma quarta-feira, dia da reunião das Professoras. Aquele encontro ficou na sua memória, assim como a proibição da música, por ordem dos generais, no dia seguinte. Para os Profissionais que estavam no encontro com Luce, neste trecho da conversa, foi possível perceber que, apesar de todos os obstáculos que a Educação enfrenta, da época da ditadura até os dias de hoje, sempre se acreditou. Sempre se esperançou.
Poli destacou a gratidão em poder contar com o depoimento de tão proeminente educadora: “foi uma honra e uma emoção poder, enquanto Diretora, tê-la conosco, nesta abertura de semana comemorativa dos 60 Anos do João, para participar de um encontro com os Profissionais que estão aqui hoje. Ter o privilégio de ouvir esta Professora, referência em Educação no País, sendo uma Profissional que fez parte da constituição histórica de nosso Colégio. Assim, mantemos a essência do legado de Zilah Totta”.
Luce finalizou com a importância que a liberdade de pensamento possui na construção de uma educação democrática. “A luta pela democracia é uma luta permanente. Democratizar na educação é democratizar a educação”. A palestrante foi ovacionada pelos Profissionais presentes.