Atividade reflete sobre a vida cotidiana e a ciência com estudantes do Ensino Médio
Na quarta-feira (28/04), aconteceu mais um encontro da nossa Jornada Literária Virtual, ministrado pela professora Aline Braga, de Língua Portuguesa, e Guy Barcellos, de Biologia. A atividade foi acompanhada pelos estudantes das 1ª series do Ensino Médio.
O encontro começou com a professora lendo um trecho do livro “A vida não é útil”, de Ailton Krenak. “James Lovelock, criador da teoria de Gaia, foi colocado para fora de um programa de pesquisa da Nasa, marginalizado pela turma que acreditava demais na teoria de Darwin. Para eles, a ideia de que a Terra é um organismo vivo era anticientífica. Até o final da década de 1990 se desprezou qualquer pesquisa que quisesse tratar esse organismo como uma coisa inteligente. Thomas Lovejoy, que é considerado o pai dos estudos da biodiversidade, e todo um grupo de pesquisadores que trabalhava sobre a teoria de Gaia foram dispersos — o status de alguns desses cientistas foi caindo até o ponto de não ter mais ninguém financiando suas pesquisas. Claro, há discípulos deles que seguem trabalhando: aqui no Brasil, por exemplo, temos o Antônio Nobre, que é um continuador dessas especulações sobre as diferentes linguagens que o organismo da Terra utiliza para se comunicar conosco.” (KRENAK, 2020, p. 18)
O professor de Biologia conectou-se ao tema problematizando os ecossistemas, como o nosso mundo está reagindo as ações das pessoas e, em seguida, iniciou a explicação do experimento que seria realizado durante a aula: Miniecossistema. O objetivo era a construir um terrário do zero e analisar passo a passo esse processo. Guy Barcellos citou como exemplo o Museu de História Natural de Nova Iorque, onde é possível encontrar terrários aquáticos, com crustáceos, além de apresentar também um pouco dos seus próprios terrários, por exemplo, um que foi realizado com as turmas de 7º ano e um que ele mesmo fez, onde é possível observar o crescimento de algas, plantas e larvas.
Após criarem os seus miniecossistemas, o professor Guy convida todos a uma reflexão: “Se houvesse alguém dentro do seu terrário, todos os seres vivos que foram colocados ali, iriam sobreviver?”. Levando a reflexão para a vida na Terra e as colocando em relação com, todas as reflexões que o Krenak traz em seus livros.
“O jeito é olhar para o nosso ser interior, e não ficar supervalorizando o trem que passa lá fora. Temos que parar de nos desenvolver e começar a nos envolver. Quando tudo está entrando em parafuso, você tem que ter alguém pra chamar — eu chamo Drummond. Pra mim, ele é um daqueles paraquedas coloridos que eu menciono em Ideias para adiar o fim do mundo” (KRENAK, 2020, p. 24).
E o encontro da Literatura e da Biologia terminou com Arte. A Professora Aline, então, convida o professor Guy Barcellos a representar o que seria esse paraquedas para o mundo, como diria Krenak.
O professor Guy finaliza a atividade com o Soneto da Loucura:
A minha casa pobre é rica de quimera
e se vou sem destino a trovejar espantos,
meu nome há de romper as mais nevoentas eras
tal qual Pentapolim, o rei dos Garamantas.
Rola em minha cabeça o tropel de batalhas
jamais vistas no chão ou no mar ou no inferno.
Se da escura cozinha escapa o cheiro de alho,
o que nele recolho é o olor da glória eterna.
Donzelas a salvar, há milhares na Terra
e eu parto em meu rocim, corisco, espada, grito,
o torto endireitando, herói de seda e ferro,
e não durmo, abrasado, e janto apenas nuvens,
na férvida obsessão de que enfim a bendita
Idade de Ouro e Sol baixe lá das alturas.
(Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), “Quixote e Sancho, de Portinari” – no livro “As impurezas do branco”. [posfácio Betina Bischof]. 1ª ed., São Paulo: Companhia das Letras, 2012)