Por onde anda…

… a ex-estudante Camila Orsatto

A Camila Orsatto se formou em Música – Licenciatura na UFRGS em 2022/2, logo depois da pandemia. Atualmente, ela dá aula de música para mais de 40 alunos, os quais se somam aos mais de 350 que passaram por ela durante esses anos de docência. No momento, está abrindo uma mentoria para ensinar os professores a dar aula de música e a encontrarem seus propósitos, definirem sua metodologia, precificação e o principal, a importância de saber construir vínculos afetivos. Ao final de cada ano ela realiza recitais com os alunos e isso faz eles se sentirem únicos e especiais enquanto indivíduos em cima do palco ou no seu espaço.  

“Proporcionar momentos nos quais a pessoa se sinta artista, que se envolva e tenha contato com outras pessoas com os mesmos objetivos, faz diferença. Eu percebo que eles têm um brilho diferente no olhar enquanto estão no palco. E eu trago essa autoconfiança pra eles, de tirar essa vergonha e para não terem medo dos julgamentos. Vou desconstruindo isso com eles. Vê-los olharem para si com orgulho, me realiza”. 

A carreira de professora e artista iniciou na infância, aos 4 anos, quando já tocava piano e foi matriculada na Educação Infantil do Colégio João XXIII, após seus pais participarem de diversas entrevistas em outras escolas. 

“A minha família sempre acreditou no poder da música e dessa coisa mais acolhedora. E, isso com certeza fez com que eles não tivessem dúvidas em me colocar no João. Ao longo dos anos, mesmo crescendo e tendo mais responsabilidades, o Colégio sempre me trouxe muita confiança. Quando estava na educação infantil sentia esse cuidado no preparo para que os próximos anos fossem mais tranquilos. E um dos grandes diferenciais do Colégio é a construção desse caminho que te leva, te guia e que te abre portas”, diz Camila. 

Ela também lembra de uma professora que lecionava literatura e era apaixonada por poesia e da professora de música, que trouxe um brilho musical e despertou nela a paixão pela música. E os que mais marcaram sua vida escolar eram da Educação Infantil e do 8º ano do Ensino Fundamental (EF). Além deles, ela guarda com carinho a Lu e a Tina. A Tina fez questão de dizer que “encontrar com a Camilinha hoje é ter o sol dentro do peito, no coração. Ela é o sol!”.  

A Camila considera o João XXIII a sua segunda casa e isso fica claro nas palavras dela: 

“Quando entrei aqui no colégio, vários sentimentos foram despertados… fui abrindo uma gavetinha de cada vez e em cada uma encontrei lembranças sobre a minha vida no João, onde fui muito feliz. As minhas quedas na hora do recreio, os professores, funcionários e dos espaços de lazer, assim como essa casinha azul e a outra, que a gente construiu na minha turma. Nós que fizemos o projeto com a arquiteta, mãe de um colega. Isso deve ter sido em 2005. Ou seja, as casinhas têm hoje 20 anos. E eu não piso nesse pátio de areia desde 2006, porque eu só vinha para esse lado do Colégio quando eu já estava no ensino médio e ia para a escola Toque Musical, onde estudei canto por 2 anos”. 

Camila menciona que o Colégio sempre oportunizou muitas coisas na área artística, as quais contribuíram para o desenvolvimento dela, principalmente pela multiplicidade de formatos e assuntos. Apesar do Colégio não ser conteudista, ela menciona que havia disciplinas como artes, história da arte e música, com muito mais horários do que os outros colégios.  

“Os professores daqui tem uma coisa diferente, que é tirar do aluno coisas boas. E quando eles percebem que os alunos têm interesse pela poesia, música e artes, eles têm a sensibilidade de levá-los para onde quiserem ir. O principal objetivo do Colégio é esse, te preparar para a vida e para saber se relacionar com as pessoas, se relacionar consigo mesmo e de se abrir para as possibilidades”. 

E ela aproveitou todas que surgiram. Entre 2011 e 2015, ela participou dos festivais de música do Colégio e em todos eles foi premiada. Em 2014, ganhou o 1º lugar no Festival Canto Livre Estudantil, evento aberto para todos os Colégios de Porto Alegre. Em 2015 ela saiu do João e alguns anos depois participou do Natal Luz de Gramado e como solista com o coro da OSPA. Em 2018, ficou em 3º lugar no Festival da Canção Francesa e em 2019 lançou o EP (álbum) Significar.  

“Pra quem é artista, o fundamental é ser múltiplo em coisas que tu poderia fazer. Eu nunca fico satisfeita com o que estou fazendo. Estou feliz e realizada, mas sigo em busca de desafios, de me atualizar. Eu fui da primeira edição da banda do João e isso me motivou a seguir até hoje participando de festivais, de shows, festas de casamentos, eventos corporativos. Em 2022, fui professora de canto e técnica vocal no curso de extensão na PUCRS e no mês passado fiz um show para mil mulheres empreendedoras em São Paulo”.

Ela lembra com carinho de quando se tornou professora, aos 16 anos, num festival de música do João XXIII. Ela assistiu uma menina de 13 anos se apresentando e percebeu que ela tinha potencial e precisava apenas de um direcionamento na entonação da voz. Foi quando se ofereceu para dar aulas de canto gratuitas durante um ano e a menina aceitou. Depois de 11 anos ela continua sua aluna. 

“A construção de vínculos e o acolhimento sempre foram premissas do Colégio. É muito mais do que a questão técnica de ensinar a cantar, mas de construção, reconstrução e transformação das pessoas. Eu me tornei professora quando eu vi que poderia fazer a diferença na vida de alguém. Levo para meus alunos essa questão do acolhimento e é por isso que eles ficam comigo por muitos anos. Eles se sentem acolhidos e seguros da mesma forma que o Colégio fazia comigo. E a música precisa disso, desse vínculo e segurança. Porque não adianta tu ter todo o conteúdo e não conseguir lidar e se relacionar com as pessoas”. 

A nossa ex-estudante ressalta que o Colégio sempre validou tudo que tinha a dizer e isso impactou diretamente na sua carreira artística. A validação foi necessária para que ela pudesse escrever suas composições, aproveitar as oportunidades e conseguir olhar para dentro, sem se preocupar com julgamentos alheios. 

“Lembrem-se de olhar para dentro, porque a gente tem o hábito de olhar para fora, de olhar para expectativas que nem são nossas. Para ser feliz em qualquer escolha é importante ir por ti e não pelos outros. O Colégio nos ensinou a buscar essa validação interna e por causa disso eu sempre me senti muito amparada, acompanhada e segura nas minhas escolhas de vida”. 

A Camila faz questão de deixar um recado para todas as crianças e jovens do Colégio João XXIII, sobre ser protagonista da própria história de vida: 

“Quando tu te deparar com portas fechadas é a hora de criar as tuas próprias oportunidades. Meu tio me disse esses dias: Se a cortina fechar, que seja no palco”. 

Por Renata Lages A. Eberhardt