…a ex-estudante Catarina Weck Glashester
A Catarina anda velejando pelos mares do Rio de Janeiro, é atleta, mora e trabalha por lá. Atualmente, nossa ex-estudante está diretamente envolvida com a comunicação e marketing de eventos esportivos e de atletas da vela.
Ela nos conta que tudo foi acontecendo de forma orgânica na vida dela. No meio do ano de 2022 foi convidada por uma atleta do Rio para velejar e competir no Iate Clube do Rio de Janeiro, com o barco 49erFx, o mesmo das bicampeãs olímpicas Martine Grael e Kahena Kunze (medalhistas nas Olimpíadas Rio 2016 e Tóquio 2020). Para a Catarina seria uma experiência ímpar, porque iria participar da Campanha Olímpica* pensando nas Olimpíadas de 2028, em Los Angeles.
Nossa ex-estudante aceitou o convite e enquanto competia, cursava a faculdade de moda na Unisinos. Em 2023, ela voltou para Porto Alegre porque o último semestre do tecnólogo de moda no SENAC precisava ser presencial por conta das cadeiras práticas e do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).
“Assim que saí do Colégio iniciei a graduação de moda na Unisinos. Ao mesmo tempo que estudava, também velejava. Eu não via a vela como algo profissional porque normalmente a carreira começa ainda na infância e eu comecei com 15 anos. O que é considerado tarde para esportes de alto rendimento. Mesmo considerando a vela um hobby, eu participava de competições da juventude.”
Inicialmente, a ideia dela era concluir o Terceirão no Colégio e ir morar na Austrália, mas o governo australiano não reconhecia o 9º ano do Ensino Fundamental do Brasil. Para ser aceito no Ensino Médio de lá, o estudante precisa ter 12 anos de estudo e a Catarina só tinha 11, somando o tempo da Educação Infantil com Ensino Fundamental (até o 8º ano) e Ensino Médio. Como ela não sabia desse critério, teve que fazer um ano de faculdade aqui para completar o tempo mínimo de estudos exigidos lá.
“Como eu ia cursar só um ano de moda na Unisinos, a minha mãe me convenceu a fazer o tecnólogo de moda no SENAC, para que eu tivesse uma troca com pessoas mais maduras e experientes do mercado de trabalho, além do curso ser mais prático. Ao contrário da graduação que era voltada para os negócios, marketing e inovação. Então, cursei os dois ao mesmo tempo, durante 2022. Pela manhã a graduação e de noite o tecnólogo. Eu estava muito animada porque era meu sonho estudar moda.”
Quando estudava no João, participava das aulas práticas pedagógicas e nos projetos de edição de vídeo. Foi durante a mostra dos curtas que ela percebeu que tinha facilidade e que gostava de investir o tempo nessa área.
“Aqui no João eu me divertia com os trabalhos e foi fazendo edição de vídeos para o Festival de Curtas que eu percebi que gostava disso. Eu adorava vir para o Colégio, de estudar aqui. Aqui todas as turmas eram amigas. Fiz vários amigos que tenho até hoje, inclusive a Helena que entrou comigo na Classe Bebê.”
Catarina foi a segunda criança da primeira turma da Classe Bebê do Colégio João XXIII. Ela entrou junto com a Helena, sua amiga até hoje. Quando ela completou 5 anos, seus pais a matricularam em outro colégio. Dois anos depois ela retornou ao João, no 7º ano do Ensino Fundamental. Logo nas primeiras aulas, a professora de biologia viu o sobrenome da Catarina na chamada e perguntou se ela era neta da Professora Maria Beatriz Glashester, o que foi prontamente respondido pela Catarina, que confirmou que a avó tinha lecionado no Colégio até a década de 90.
“A minha família sempre teve uma conexão muito forte com o Colégio. E, tudo começou com a minha vó. O tempo que eu tive no João sempre foi muito precioso. A relação com os professores e profissionais era maravilhosa. Apesar da minha turma ser bagunceira, era muito amorosa. E a gente tinha uma conexão legal com a Lu, a Tina, o Bira, o Jorge e o professor Marcelo. Trocávamos muito com eles sobre nossas vidas. E a relação com os professores ultrapassava a sala de aula. Lembro de conversar com a Cida sobre um problema que eu tinha… eu chorava e contava pra ela e ela me orientava e abraçava. São essas conexões afetivas que criamos e que permanecem.”
Nossa ex-estudante lembra com carinho de como era bom ficar no colégio, viver e estudar aqui.
“A gente tinha as atividades práticas de tarde e adorávamos ficar no João por ter um ambiente arborizado, agradável e acolhedor. Poder ler um livro no sol, curtir os espaços do Colégio era sensacional e isso me marcou muito. Aqui aprendemos através de conteúdos e com lições de vida também.”
Catarina foi integrante do Grêmio Estudantil do João (GEJ) por dois anos. No primeiro ano ficou envolvida com a parte esportiva e no segundo entrou como vice-presidente.
“Representar os alunos em diversos momentos me despertou esse lado da comunicação. Outro momento legal foi quando organizamos a gincana noturna. As equipes eram mistas, com estudantes de vários anos. Em 2016 participei como aluna do 9º ano e nos seguintes como organizadora da gincana.”
Ela nos conta que o mais a marcou no Ensino Médio foi a saída de estudos, de dois dias, para o Uruguai, atividade da aula de espanhol do Terceirão. Outro momento marcante foi a Feira das Profissões do Colégio.
“Como eu queria fazer moda, na Feira das Profissões pude tirar várias dúvidas e foi lá que eu fiquei sabendo que não tinha esse curso na UFRGS e nem na PUCRS. Me deu até um certo alívio saber que não teria que fazer o vestibular da UFRGS e ali já mudei meu foco no Terceirão e eu pude me dedicar mais à vela. E, como eu era muito estudiosa, percebi que poderia seguir com a minha rotina de campeonatos e estudos.”
Quando ela passou no vestibular para Moda na Unisinos, ainda não tinha feito as provas finais no João. Nas primeiras semanas de aula, ela só pensava em moda e seguia apaixonada pelo curso, mas o sonho de ir pra Austrália não pode ser realizado e teve que ser adiado.
“No que entrei na faculdade eu entendi que moda nunca foi só sobre roupa, é sobre pessoas, comportamento e forma de expressão. Aos poucos fui percebendo que moda tinha tudo a ver com a comunicação.”
Ela acabou fechando uma parceria com uma marca de acessórios e roupas para esporte, na qual produzia textos para divulgação da marca. A rotina da Catarina era intensa, estudava pela manhã, treinava à tarde e nos finais de semana.
“Eu aproveitava todas as oportunidades, com muita seriedade e respeitando os meus limites, pensando sempre num equilíbrio. E as coisas foram acontecendo de uma forma muito orgânica, em decorrência das minhas experiências e conexões. Se eu tivesse que desenhar esse caminho, não conseguiria, porque ele não é linear.”
Enquanto ela fazia divulgações para a marca no Instagram, também cobria as competições de vela. Catarina explica que a vela é um esporte que não tem tanta visibilidade e nem comentaristas especializados como alguns esportes mais tradicionais.
“Eu aproveitava que estava nos campeonatos para produzir conteúdo, entrevistas, previsão do tempo, súmulas. Porque eu percebi que não tinha esse tipo de conteúdo e o que eu fazia começou a dar resultado. Isso fez com que conseguisse aproximar a comunidade da vela e que a marca tivesse mais engajamento.”
O Iate Club viu o trabalho que ela estava desenvolvendo e a chamou para cobrir dois campeonatos, elevando o nível da cobertura que era feito somente em terra. O clube forneceu um bote para que ela pudesse fazer a cobertura dentro da água. Uma pessoa viu o trabalho dela e propôs que ela cuidasse do perfil de vela no YouTube.
Um tempo depois passou a fazer assessoria esportiva e o Instagram das bicampeãs olímpicas e isso lhe abriu várias portas. Ela segue velejando, competindo e se dedicando à comunicação. Ela se considera uma profissional em construção.
“Ainda não decidi que pós-graduação vou fazer, se será em marketing, comunicação ou outra área. Já não me vejo trabalhando com moda. A gente as vezes acha que tem certeza do que a gente quer e quando se dá conta, aquilo nem faz mais sentido. Eu tinha certeza de que a moda era o meu caminho. E hoje nem perto disso eu passo. A vida que eu tenho hoje é porque arrisquei e aproveitei as oportunidades. Mas foi importante cursar, porque era o que eu queria e gostei do curso. E por causa dele acabei na comunicação que é o que faço hoje. Estou feliz e realizada e acho que vai demorar para eu “cair” num emprego de carteira assinada”, afirma Catarina.
O objetivo dela é se sustentar sozinha, já que atualmente ela recebe ajuda dos pais para complementar o valor que recebe das bolsas esportivas, do patrocinador e dos clientes que ela tem na empresa.
“Busquem e agarrem as oportunidades. Tragam as pessoas para perto, porque nunca se sabe o que elas podem contribuir com a tua jornada. A vida vai se desenhando de uma maneira que tu nem imagina. Então, se tu puderes fazer alguma coisa diferente e que tu gostas, aproveita e te dedica”, destaca nossa ex-estudante Catarina.
Sobre voltar ao Colégio para participar da série “Por onde anda…” e contar um pouco da vida escolar aqui no João, ela fala o que sentiu e o que significou esse momento:
“Foi tão bom voltar ao João e rever as pessoas que eu gosto. Fiquei muito feliz em saber que a maioria continua trabalhando aqui, porque isso significa que outras pessoas estão passando por eles e vivenciando a mesma experiência que eu tive. E, quando eu venho para Porto Alegre, sempre dou um jeito de encontrar meus amigos. Dessa vez, nos organizamos e nos reencontramos na Festa Junina do Colégio. Foi marcante, porque tiramos muitas fotos, cantamos juntos e reencontramos amigos, educadores, profissionais e ex-colegas”, finaliza Catarina.
* A campanha olímpica é o período entre as olimpíadas, na qual o atleta participa de diversos campeonatos para tentar se classificar ou não para a competição. No caso da vela, os atletas não são contratados por clubes e são eles que decidem em quais campeonatos irão participar.
Por Renata Lages A. Eberhardt
















