Por onde anda… 

… o ex-estudante Danichi Hausen Mizoguchi

O Danichi de hoje teve muita contribuição do Colégio. Atualmente, Danichi Hausen Mizoguchi é psicólogo e professor universitário concursado da Universidade Federal Fluminense (UFF). Ingressou em psicologia na UFRGS ao passar no meu primeiro vestibular, gabaritando a prova de português e de redação. Ou seja, o João teve grande influência nos resultados dele nas provas. 

Após a formatura, em janeiro de 2005, ele se inscreveu no mestrado e para bolsa de pesquisa. Foi selecionado e em agosto do mesmo ano foi para o Rio de Janeiro. Durante o mestrado começou a dar aula numa faculdade particular, onde lecionou por 6 anos no curso de psicologia. Enquanto lecionava, iniciou e concluiu o doutorado. Ao final da especialização, fez concurso para vaga de professor na UFF, sendo aprovado em 1º lugar. Em fevereiro de 2014 ele se desligou da universidade privada para se dedicar exclusivamente como docente na UFF.  

“Sou professor de psicologia social na UFF, trabalho com a graduação, pós-graduação e oriento mestrado e doutorado. Sou escritor de romances e meu primeiro livro intitulado “5 ou 6 dias” foi lançado foi em 2022 e recebeu muitos prêmios. Acabei de lançar o segundo romance “Eterna Fantasia” que tem na contracapa o depoimento do Caetano Veloso.” 

Ele ainda destaca que de modo geral a pedagogia da escola, que atravessa todas as séries e os momentos de formação dos estudantes, cultiva a singularidade e do respeito ao tempo de cada um que isso implica diretamente no sentimento de coragem, de apresentar seu próprio pensamento e de defender suas ideias. 

“Isso está muito presente até hoje. Mesmo que as coisas estejam mudando, a essência permanece. E isso fez com que eu me tornasse professor e transparecesse no modo como eu leciono, como faço as avaliações e de que forma me relaciono com meus alunos. Lembro de conversar com amigos que estudavam em outros colégios e deles dizerem os professores eram rigorosos e que aqui no João era diferente. Não que fosse permitido tudo aqui, é em outro sentido. No sentido de ter uma liberdade respeitosa entre professor e aluno. E eu levo isso além da sala de aula, para a paternidade também e na forma com que eu educo o meu filho, o João.” 

Danichi entrou no João em 1987, com 5 anos, na Educação Infantil, no nível B. Ele conta que o prédio da Educação Infantil ficava num espaço restrito, na entrada do Colégio à direita de quem entra, onde tem a quadra verde hoje. O prédio inclusive tinha uma portaria exclusiva. Dos anos iniciais ele lembra do processo de alfabetização, quando aprenderam o alfabeto e de quando faziam desenhos das letras usando grãos, purpurina e lantejoula. Ele gostava desse momento de aprendizagem criativa. 

“O Colégio sempre respeitou o tempo e o ritmo de cada um na aprendizagem. Não existia cobrança de que tem que aprender agora e todos juntos. Lembro muito dessa ludicidade no processo de alfabetização.” 

A maior parte da jornada escolar Danichi estudou no turno da tarde. Quando passou para manhã, ele calculava a hora de dormir e quantas horas faltavam para ir à aula.  

“Estudar de manhã era maravilhoso, eram menos horas que eu tinha que esperar para voltar para o João. Todos os dias eu ia dormir com aquela ansiedade e alegria de saber que pela manhã estaria de volta para encontrar meus amigos. Nunca foi um peso ou uma questão moral estudar, pelo contrário, sempre foi muito bom vir para o João. Nunca teve esse tom de compromisso e obrigação. O João sempre soube fazer uma comunidade e a gente se dava bem com todo mundo. Inclusive uma das minhas irmãs estudou com a Paola que trabalha no Audiovisual aqui no João e que são amigas até hoje.” 

Além dele, outros 3 irmãos estudaram no Colégio. Ele foi o primeiro por ser mais velho e o que teve um período maior de adaptação na Educação Infantil. 

Outro momento importante, o qual recorda com carinho, eram as aulas de português. Danichi lembra que existia um projeto de leitura, em que os estudantes precisavam ler 3 livros entre 12 indicados pela professora. Após as leituras, eles participavam de debates sobre os livros e era uma troca enriquecedora. Hoje esse projeto é chamado de Ciclos de Leitura. 

“Aprendíamos muito, já que cada um trazia seu ponto de vista e seu modo de interpretar aquela história. No meu caso, eu lia todos da lista, porque eu tinha prazer em ler. O Colégio estimulava a leitura e as diferentes formas de interpretar e pensar. As sensações e perspectivas de cada um eram respeitadas. E isso me marcou profundamente e contribuiu para minha formação como leitor e escritor. Claro que eu também tinha estímulos familiares para leitura, mas o Colégio me marcou nesse sentido e foi um trampolim para minha paixão pela literatura e escrita.” 

O Danichi recorda dos esportes no João, apesar de naquele tempo (há mais de 30 anos) o Colégio não ser tão competitivo, todos se divertiam, aprendiam a ganhar e perder e a respeitar o adversário. 

“Lembro de ter jogado muita bola. Me divertia com os esportes e isso ainda é uma memória muito forte para mim. Tenho isso forte na minha vida até hoje, porque continuo jogando futebol lá no Rio de Janeiro. E aqui, quando criança e adolescente, eu jogava na base do Grêmio e tive convite para jogar no Inter. O futebol foi uma possibilidade de carreira naquela fase da minha vida. Hoje é um hobby.” 

Além dos esportes, o ex-estudante do João XXIII gostava de participar das gincanas. Ele destaca uma que durava 24h e na qual passavam a noite no Colégio e no dia seguinte saiam pela cidade para cumprirem as tarefas. A equipe dele venceu e ganhou uma viagem para Nova Petrópolis.  

“Foi inesquecível essa viagem para Nova Petrópolis, assim como as outras que fizemos em saídas de estudos. Recordo de ter ido para Caxias do Sul quando estudávamos a colonização, de ter ido para as Missões, no Ceclimar em Imbé, da viagem de final de ano para Santa Catarina e a do Terceirão para Porto Seguro. Foram viagens que deixaram memórias inesquecíveis.” 

Foram diversos momentos marcantes na trajetória escolar do Danichi. Entre elas, ele destaca o vínculo criado com os colegas e que até hoje continuam seus amigos. 

“A grande mudança humana que aconteceu na minha vida escolar foi a mistura entre guris e gurias, porque até então éramos grupos separados e foi na transição do 1º para o 2º grau que começou isso. E, o 2º grau foi bem marcante porque construí amizades que tenho até hoje. Muitos casaram e tiveram filhos e seguimos em contato. Os filhos do Claudio Levitan estudaram aqui e a Carina Levitan, cantora, foi minha colega e é minha amiga”, ressalta Danichi. 

As amizades dele nasceram nos mais diversos espaços do Colégio, mas principalmente nos lugares que ele mais gostava: Campão, Pátio Central, Ginásio por causa do futebol, e a entrada do Colégio. 

“O Pórtico era meu lugar preferido, principalmente na hora da saída, porque os pais não chegavam na mesma hora e eu e meus amigos ficávamos ali conversando e brincando enquanto esperávamos. Eu gostava muito desse momento de interação e convivência. Era e ainda é um local afetivo e muito forte para mim.” 

Um fato curioso que ele fez questão de contar, aconteceu na formatura no 8º ano do 1º grau, quando uma chuvarada caiu em Porto Alegre e os estudantes tiveram que ser realocados para a biblioteca, onde puderam concluir a cerimônia. Da formatura do 2º grau ele não tem lembranças afetivas, ao contrário da Festa das Tintas. 

“Foi uma experiência inesquecível! Nós pintávamos o muro e colocávamos nosso nome lá também. Era um rito muito esperado por todos, porque representava o fechamento da nossa trajetória no Colégio João XXIII, sendo até mais importante que a própria formatura para nós.” 

Depois de 30 anos, quando retornou ao Colégio para ser entrevistado, se deparou novamente com o seu “canto” preferido no João, o Pórtico de entrada. Ao passar por ele foi como se tivesse entrado numa máquina do tempo, que o fez sentir um misto de emoções. 

“Ao passar pelo Pórtico recebi uma cascata de lembranças e de cenas do que vivi aqui. Me despertou uma curiosidade, uma necessidade de ver tudo que tem hoje no João, o que mudou e o que continua. Me emocionei só de lembrar de quando pisei no colégio pela primeira vez. Era um dia chuvoso, eu com 5 anos, de mãos dadas com a minha mãe e perceber que eu era um dos únicos pardos do Colégio. Meu pai é negro e por parte dele temos ainda origem indígena e japonesa e por parte de mãe, alemã e portuguesa. Meu avô era japonês e quando veio para o Brasil se casou com uma negra com descendência indígena. Também lembrei dos dias frios, de trazer a bola de futebol para jogar com meus colegas e amigos para nos aquecermos. E, todas essas lembranças vieram acompanhadas de uma sensação muito boa.” 

Porque naquela época, Danichi nos conta que as relações de amizade eram muito fortes e era quase uma utopia imaginar que os 12 anos de uma vida no João seriam iguais fora do Colégio.  

“Pensar na vida fora daqui era um contraste absurdo. Aqui era tão bom, que quando saímos, vimos que lá fora não era tão bom quanto aqui e esse foi o lado ruim e um pouco utópico. Imaginávamos que seria a mesma coisa na graduação. Demorou para aceitar e de certa forma é bom também, porque os vínculos que construímos no João foram sólidos e conseguimos levar para a vida. E tivemos que entender que nem todos os lugares serão como era no João.” 

Dessa vivência escolar ficaram as amizades, o aprendizado e o respeito ao tempo do outro. O ex-estudante deixa um recado para os jovens estudantes: 

“Aproveitem ao máximo esses momentos que vocês estão vivendo no Colégio, porque eles serão muito importantes no futuro, no sentido de desenvolver a solidariedade, na construção de amizades que aqui são muito bem cultivadas. Aproveitem as oportunidades e no que está por vir.” 

Por Renata Lages A. Eberhardt