Por onde anda… 

Ex-estudante Julio Soares Curi 

O nosso ex-estudante Julio Soares Curi é médico recém-formado pela Univates, após 6 anos de estudos e realiza plantões esporádicos de 12h ou 24h em hospitais e UPA’s porque não tem vínculo empregatício. Nos plantões ele atende as fichas verde, azul e amarela. Além disso, ele participa de 5 grupos de pesquisa, sendo que num deles, é o primeiro autor. A maioria das pesquisas que realiza referem-se à revisão sistemática e meta-análise, ou seja, são pesquisas que não precisam passar pelo Comitê de Ética para aprovação. Júlio também estuda atualmente para os steps 1, 2 e 3, que é a revalidação do diploma nos Estados Unidos, para aplicar e poder fazer a residência em anestesia. 

“Para a área da pesquisa é importante ser curioso, interessado e pensar o mundo de uma forma menos pragmática. Eu participei do congresso da Sociedade Americana de anestesia regional e apresentei alguns trabalhos por lá. Nos intervalos eu aproveitava para conversar com os outros participantes do evento para trocar experiências e ampliar o networking.”  

E o interesse dele em aprender e se aperfeiçoar fica evidente nos estágios que realizou fora do país, em Weston na Flórida, na área de Anestesia na Cleveland Clinic; em Medicina Interna na Florida Internacional University; em Jacksonville, também na Flórida, em Anestesia da Mayo Clinic Florida e na mesma área no MD Anderson Cancer Center, em Houston no Texas. 

“Como quero ser anestesista nos Estados Unidos (eu e o resto do mundo), a disciplina por si só fornece a maneira pela qual tu consegues chegar lá, mas ela não te mantém no percurso. O que te mantém é gostar do que se faz. Disciplina se aprende, estudar se aprende, se aprende o Método Pomodoro*. O que é difícil aprender é a afetividade e a alegria. E eu sempre tento enxergar o belo da vida. Teremos dias que serão ruins e precisaremos ser maleáveis para quando tudo der errado. E as coisas dão errado. E o que não me deixa desistir é a minha visão mais bonita da vida. E isso eu aprendi no João XXIII”, destaca Julio. 

E os aprendizados dele iniciaram em 2011, quando entrou no Colégio no 7º ano do Ensino Fundamental, após sair de uma escola menor juntamente com um grupo de 8 alunos. 

“Quando entrei no João fiquei impactado com o tamanho do colégio e com os professores que eram bem mais amigáveis.” 

Ele lembra com carinho das suas memórias afetivas relacionadas aos professores de matemática Cássio e Cida, da Paula (de química e atual diretora), do Rogerinho, Arthur e Caju. Embora as disciplinas de química e física não sejam da área biológica, onde a Medicina se situa, elas envolvem ciência e que despertam algo novo porque são muito experimentais e isso foi o que motivou o Julio a fazer medicina. Os professores estão diretamente ligados a essa motivação e ao despertar dos alunos. Se os professores gostam do que fazem, com certeza motivarão seus alunos.  

“Eu não gostava de matemática, mas tive ótimos professores e tenho boas lembranças das aulas e isso me motivou a buscar o que queria. Essas disciplinas me estimulam a pensar. Inclusive, conversei com um professor de matemática de cursinho pré-vestibular sobre como é importante entender os conceitos matemáticos que aprendi no João, os quais me ajudaram na faculdade ao estudar farmacologia.” 

Ao entrar no Ensino Médio o Julio ainda não sabia o que ia fazer na graduação. A sua matéria preferida era física, chegou a pensar na possibilidade de estudá-la na graduação, mas o que mais despertava interesse era o futebol e atividades nas quais pudesse conversar com as pessoas. Somente no Terceirão ele começou a pensar em Medicina, mas ainda não era uma certeza, tanto que ficou 1 ano estudando após a formatura. Em 2018 ele fez cursinho pré-vestibular e em 2019 passou para Medicina em Santa Catarina, numa universidade da cidade de Jaraguá do Sul, perto de Joinville, chamada Estácio de Sá. Depois de cursar 1 semestre ele recebeu um e-mail da Univates, localizada em Lajeado no RS, avisando que o processo seletivo estava aberto e ele resolveu se inscrever para tentar entrar com a nota do ENEM. Acabou bem classificado e voltou ao RS para cursar Medicina na Univates e ficar mais perto da família. 

“Quando saí do colégio eu não entrei direto em Medicina, mas por culpa minha e não do Colégio. Eu não tinha maturidade naquela época, apesar do meu interesse pela profissão, porque meu pai é médico e eu o acompanhava muitas vezes no hospital, como parte da minha rotina. Eu lembro do meu pai brabo comigo porque eu não sabia ainda o que queria fazer. Ele nunca foi de me pressionar a fazer algo que eu não gostaria de fazer. E, aquele ano após a saída do Colégio, foi de ócio criativo, mas não deixei de estudar. 

Ele afirma ainda que quando estava no Colégio tinha uma visão muito pragmática do conhecimento e acredita que para ser um bom profissional tem que gostar do que se faz. E, que o gostar anda de mãos dadas com a disciplina, motivação e o lúdico. 

“Antes da disciplina precisamos nos conectar com o que a gente quer. Ter tido essa base de convivência com pessoas afetivas na vida e no Colégio, fez com que eu não perdesse esse lado afetuoso, que é o que sustenta as dificuldades quando se quer conquistar algo. Ter conhecimento do todo também é importante porque ele é como um quebra-cabeça, a gente pega as peças e não consegue ver o que a gente está montando, mas ao juntar cada peça, a gente vai montar algo muito bonito. Isso é o conhecimento”, conclui Julio. 

Toda essa afetividade esteve muito presente em suas relações, tanto que sua melhor amiga, é a Camila Orsatto, ex-estudante do João e que também participou da série “Por onde anda”. Ele conta que inclusive ela foi a Lajeado para sua formatura em Medicina. 

“Ela é, sem dúvidas, a relação mais forte que levei para vida. Somos muito amigos. Ainda tenho contato com alguns ex-colegas, mas cada um acaba seguindo um caminho diferente e a gente vai se distanciando e fica cada vez mais difícil se encontrar, principalmente porque eu tinha ido morar em Santa Catarina e agora estou em Lajeado.” 

De volta ao João XXIII para dar entrevista, ele relata o que sentiu quando entrou pelo portão principal: 

“Hoje senti saudade. Porque foi uma parte da minha vida que passei aqui e nos quais fui muito feliz. O Colégio me fez ser quem eu sou de fato. Sou curioso e comunicativo e isso é fundamental para ser pesquisador e anestesista. O Colégio teve grande influência na minha trajetória e isso me deu forças para buscar estágio no exterior, onde eu não conhecia ninguém, numa língua que não é a minha, apesar de falar e entender inglês, é um outro ambiente, com outra cultura e outras pessoas.”  

Um conselho que ele deixa para os estudantes do João está diretamente relacionado ao que viveu durante a vida escolar e acadêmica, para aproveitarem todas as oportunidades que surgirem no colégio e que está tudo bem não saber o que se quer para o vestibular ou futuro. 

“Mirem alto e corram atrás dos seus objetivos. Na vida a gente sempre tem duas escolhas: o nosso caminho e o caminho dos outros. Se a gente seguir o caminho dos outros a gente pode acertar ou errar. Se seguirmos o nosso, também poderemos acertar ou errar. E eu prefiro errar no meu caminho a errar no caminho dos outros. E, qualquer um pode chegar aonde cheguei ou ir muito além. Porque o sofrimento e as dificuldades são inerentes à vida e se a gente não tem essa maleabilidade, esse colágeno no osso, a gente vai se quebrar.” 

E o Julio conseguiu realizar o seu grande sonho. Em outubro, ele foi contratado pela Cleveland Clinic Florida para ser Research Fellow** no Departamento de Anestesia. A partir de janeiro de 2026. ele será o novo pesquisador da Cleveland Clinic Florida. 

Por Renata Lages A. Eberhardt

* O Método Pomodoro é uma técnica de gestão de tempo que visa melhorar o foco e a produtividade, dividindo o trabalho em períodos fixos, chamados “pomodoros”, intercalados com pequenas pausas. Originalmente, um “pomodoro” tem 25 minutos de duração, seguido por uma pausa de 5 minutos. Após quatro “pomodoros”, é recomendada uma pausa mais longa, de 15 a 30 minutos. 

** Research Fellow é um profissional acadêmico que se dedica à pesquisa, geralmente com financiamento de um projeto específico em universidades ou institutos de pesquisa. A posição é focada na realização de pesquisas, análise de dados e publicação de resultados, com o objetivo de publicar artigos científicos e avançar o conhecimento em sua área.