Por onde anda… 

… o ex-estudante Pedro Henrique Gonçalves Custódio 

Desde o início do ano, o Pedro Custódio estagia no João XXIII e atua como monitor e auxiliar de classe no 7º ano do Ensino Fundamental (EF) e dá aula de futsal na Atleta, empresa terceirizada do Colégio. Paralelo às atividades profissionais, ele cursa o 3º semestre de Educação Física na UFRGS.  

A trajetória do descendente de príncipe antes de entrar na graduação é bem interessante e foi marcada por momentos especiais desde quando entrou como bolsista no João em 2008, com 3 anos, na Educação Infantil. 

“Meus pais sempre lutaram para que tivesse uma boa educação, assim como para minha irmã. Eles tinham essa ambição de que eu estudasse num colégio bom e que os estudos agregassem na minha vida futuramente”. 

Durante o período em que estudou no Colégio, ele viveu intensamente cada etapa. Na Educação Infantil adorava brincar no pátio de areia, subir no foguete e jogar bola. As atividades foram contribuindo para que a escolha pela Educação Física fosse algo natural, assim como fazer amizades. 

“Fiz amigos que tenho até hoje e que eu sei que posso contar com eles para tudo na vida assim como eles podem contar comigo quando precisarem. Lembro do Vítor, que entrou comigo na Educação Infantil e nos formamos juntos no Ensino Médio. Ele é meu amigo até hoje e as nossas famílias são amigas também. É uma relação muito boa e que eu construí por causa do Colégio João XXIII”.  

Quando ele entrou no 1º ano do EF achou que seria difícil a transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental, mas destaca que teve todo suporte do Colégio para que pudesse migrar da melhor forma possível e que se sentisse seguro nessa nova fase. Do EF o Pedro lembra com carinho de algumas professoras, que lhe ajudaram bastante. 

“Lembro da professora Raquel, Luciana e Bibiana. Inclusive a minha mãe é amiga da professora Bibiana e elas se falam direto. Quando entrei no estágio ela mandou mensagem para minha mãe me elogiando e que estava muito feliz por mim. Tenho muita gratidão por isso e por todos que passaram pela minha vida aqui no João XXIII”. 

O 5º ano deixou marcas ainda mais significativas quando conheceram a história do Príncipe Custódio e a relação entre ele e o nosso ex-estudante, Pedro. 

“Como frequentemente as pessoas perguntavam sobre a minha descendência, o meu avô Edson Germano Custódio veio ao Colégio dar uma palestra sobre o príncipe Custódio. Até hoje as pessoas vêm falar comigo e perguntam se eu sou descendente do príncipe, até os alunos perguntam e eu sempre conto a história para eles”. 

O descendente de príncipe cresceu no João como um dos poucos estudantes negros. Tornar sua história conhecida e proporcionar momentos para conversar sobre essas questões, fazia com que se sentisse mais seguro e orgulhoso da sua história. 

“As professoras Rosane, Thaís e Marilei me marcaram muito e, ser colega de trabalho delas hoje me mostrou o quanto foi importante passar por esse processo e que me fez ser quem eu sou hoje. Eu brinco com a Tina que o trabalho que eu dava para ela, hoje os alunos dão para mim. E é muito legal isso. E ser colega da Tina é muito especial, porque ela me viu crescer. A Melissa também é especial porque tudo que ela me ensinou eu levei para faculdade. E poder ajudar os professores é muito gratificante. Nosso relacionamento é bem próximo e todos me chamam de Pedrão”. 

E esse relacionamento entre ele e os professores e com os colegas de aula não se abalou nem com a pandemia. Em 2021, o Pedro era do Grêmio Estudantil do João (GEJ) e organizava campeonatos de Rocket League online (jogo eletrônico de futebol com veículos que fazem gol) para os estudantes. Apesar do distanciamento ele percebia que os colegas ficavam muito felizes em participar desses momentos e se sentiam acolhidos pelo Colégio, assim como ele. 

Outro projeto no qual ele esteve envolvido durante o Terceirão, foi o Vozes Resilientes, criado por ele, juntamente com o colega Paulo Gabriel e a estudante do segundo ano do médio, Helena Pretto e mediado pela psicóloga escolar do Núcleo da Juventude, Vanessa Aquino. O objetivo desse projeto era reunir um grupo que tivesse interesse em ouvir as vozes negras dos estudantes do João XXIII. E, também, mostrar as dificuldades de ser negro num espaço majoritariamente ocupado por pessoas brancas. Os encontros aconteciam quinzenalmente na sala de cinema do Colégio. 

“A cada reunião a gente trazia um tema diferente e debatíamos sobre ele. Era quase uma terapia de grupo. Passávamos sempre nas salas para falar do projeto e da oportunidade para conversar e trocar ideias de forma tranquila e segura. Abordar assuntos que eu precisava desabafar e as pessoas entenderem o que eu queria dizer, foi algo que aqueceu bastante meu coração. Eu sentia muito orgulho de mim por ter criado esse canal e foi uma experiência que eu levei para vida”, diz Pedro.   

Ele ainda destaca as aulas da Letícia, professora de Espanhol, dos professores de Educação Física Marcelo, Sérgio, Paolo e Aurélio (da Educação Infantil), e especialmente da Ane do Atendimento Educacional Especializado (AEE). 

 “Tenho muita gratidão a todos eles, porque impactaram de alguma forma a minha vida e contribuíram para ser quem sou hoje. Eles me inspiraram a ser que nem eles como professor: flexível e que os alunos pudessem se sentir confortáveis, assim como eu me sentia com eles. E eu faço isso com meus alunos”. 

Essa confiança nos professores, o acolhimento e o aprendizado fizeram toda diferença na formação do nosso ex-estudante. Ter feito simulados e participado de campeonatos Interséries do Colégio, mostrou para ele o quanto o estudo e o esporte unem e fazem a diferença na vida das pessoas. 

“E isso tudo me fez pensar em seguir na área da docência no esporte. Eu não estudei para o vestibular e para o ENEM, porque eu fazia as tarefas e os trabalhos e prestava atenção em aula. Eu sempre fui um aluno esforçado e eu tirava todas as dúvidas com os professores, apesar da timidez. Ou seja, não fiz curso preparatório, fui para a prova com meus conhecimentos aprendidos no João XXIII e fui aprovado no primeiro vestibular, depois que saiu do Colégio, para Educação Física na UFRGS”.  

Ao voltar para o João como estagiário, local que considera como a sua segunda casa, ele percebeu o quanto cresceu e está vencendo com o apoio da família, dos amigos e de todos os educadores do João. 

“A jornada não foi fácil. Quando abriu o edital para trabalhar aqui, não tive dúvidas e me inscrevi. Eu conheço a escola de ponta a ponta e cada vez que olho o meu crachá, tenho ainda mais vontade de crescer como profissional, do mesmo jeito que que cresci como aluno e como pessoa aqui dentro. Eu estou muito feliz em estar de novo aqui”. 

Ele ressalta a importância de nunca desistir dos sonhos e que todos devem correr atrás dos seus objetivos. E que o afeto e apoio familiar são essenciais durante a trajetória acadêmica, pessoal e profissional. 

“Nunca deixe de abraçar ou desabafar quando foi preciso. O afeto e apoio são fundamentais em nossas vidas”. 

Por Renata Lages A. Eberhardt