… a ex-estudante Victória Nóbrega Barelli
Atualmente a Victória anda pela Europa, mais especificamente na praia de Carcavelos, na Ilha de Cascais, em Portugal, que fica a uma hora da universidade na qual ela faz mobilidade acadêmica pela manhã.
Desde que chegou em Portugal, ela tem percebido algumas diferenças em relação à área acadêmica, uma delas é que normalmente no segundo semestre na universidade brasileira, os graduandos podem estagiar enquanto na portuguesa o estudante só começa a trabalhar no mestrado. Enquanto no Brasil são 4 ou 5 anos de graduação, incluindo o trabalho de conclusão de curso (TCC) mais alguns anos de estudo para quem busca uma maior qualificação com especialização, mestrado e doutorado. Em Portugal os cursos duram em média 3 anos e não tem TCC. E, no final do curso os alunos aplicam para o mestrado, que tem duração de 2 anos mais o trabalho de conclusão. Depois de 5 anos de estudos é que se tem relevância para o mercado de trabalho. Antes desse período, alguns universitários realizam trabalhos voluntários ou estágios não remunerados. Ao fazer trabalho voluntário, o estudante de mobilidade acadêmica não paga hospedagem.
Outra percepção que ela nos traz é em relação ao transporte público. Lá as pessoas até 24 anos não pagam passagem, então ela pode pegar trem, ônibus e barco, de forma gratuita. Ou seja, ela não tem despesas com hospedagem e transporte, mas tem com alimentação e possíveis compras.
Para chegar até aqui, precisamos retornar ao início da vida acadêmica da Victória, quando ela ingressou com bolsa integral no 3º ano do Ensino Fundamental (EF) e ficou até a 3ª série do Ensino Médio (EM), quando se formou no Terceirão em 2019, no João. No último ano do EM ela cogitou cursar Arquitetura e Urbanismo, apesar de nunca ter pensado em ir para a área de exatas. Mas por gostar da parte de decoração e criatividade, ela se enxergava trabalhando com algo mais sustentável, como ecotelhado. Outra área que despertava interesse da Victória era a comunicação, mais especificamente a publicidade e propaganda pela parte criativa.
Depois de ter feito o ENEM, ela conversou com a família sobre o curso que faria e o irmão sugeriu que ela se matriculasse no curso Técnico em Edificações na Escola Parobé, que é um curso mais amplo com um pouco de arquitetura e de engenharia civil. Isso daria uma ideia sobre a área, caso optasse pela arquitetura.
O curso técnico foi válido e ela destaca que ele foi fundamental para o seu desenvolvimento pessoal. Pois, tinha acabado de sair do EM e se encontrava numa escola completamente diferente do João, onde estudou por 10 anos.
“Foi enriquecedora essa troca com diferentes faixas-etárias e níveis sociais. Mas ali eu percebi que eu não queria cursar arquitetura, porque a parte que eu achava que mais gostava era a criativa e de desenho, e não foi o que encontrei no Técnico em Edificações. Como eu queria estudar em universidade particular minha única alternativa seria o ProUni. Infelizmente, eu não fui aprovada no processo seletivo para arquitetura na Unisinos. De qualquer forma, terminei o curso técnico e fiz estágio numa construtora em Porto Alegre, onde fiquei 6 meses e fui efetivada logo depois”, diz Victória.
Ao conversar com amigos e profissionais da área, olhar ementas dos cursos, ela decidiu por Publicidade e Propaganda que sempre esteve presente durante toda sua jornada escolar. Em 2021, Victória se inscreveu no ProUni para a PUCRS sendo aprovada para o segundo semestre de 2021. No segundo semestre do curso, no início de 2022, ela iniciou estágio de comunicação e marketing numa empresa de tecnologia. Quando decidiu fazer mobilidade acadêmica. A escolha por Portugal teve como influência o fato do seu irmão e de alguns amigos morarem lá e pela questão da facilidade na comunicação em razão da língua. Essa opção parecia ser a mais acolhedora.
A aprovação em 2º lugar na mobilidade acadêmica, para estudar na universidade católica portuguesa em Lisboa aconteceu. Esse resultado saiu em outubro e a classificação é baseada nas notas de cada universitário. A Victória ressalta que em pouco tempo teve que se organizar, porque as aulas começariam dia 3 de fevereiro de 2025. E, em novembro ela comprou a passagem aérea e fez o visto de estudante. Antes de embarcar para o tão esperado sonho, ela precisava escolher das disciplinas eletivas e/ou substitutas para a grade curricular na PUCRS. O semestre da mobilidade substitui o da PUCRS. O aluno continua pagando normalmente a universidade no Brasil enquanto estuda no exterior. No caso da Victória, como ela é ProUni e não paga mensalidade no Brasil, consequentemente não paga na Europa também. Ela lembra que:
“Mesmo sem ter gastos com mensalidade, a subsistência é por minha conta e a alternativa que encontrei foi com o voluntariado, uma segunda experiência desafiadora, porque o intercâmbio por si só já é muito desafiador. Está sendo muito intenso pelas vivências que eu já tive e pelo tanto que aprendi, desde cozinhar até a me cuidar quando fiquei doente e tive que ir sozinha ao médico. Os perrengues servem como uma reflexão, pois me leva a pensar que se eu passei em 2º lugar para vir para cá, não será um problema tão pequeno que me fará desistir. ”
Ao chegar em Portugal nossa ex-estudante se cadastrou na plataforma Worldpackers, para trocar trabalho por acomodação. Nesse caso, ela conseguiu por indicação, ao entrar em contato com um hostel explicando que era intercambista e que gostaria de se candidatar para uma vaga de voluntária eles de pronto aceitaram. Atualmente, ela concilia os horários de faculdade com os de trabalho. No hostel ela é responsável pelo checkin e checkout e ainda tem a oportunidade para treinar o inglês e demais línguas. Ela destaca que é uma troca muito intensa de cultura, já que os quartos são mistos e o hostel fica numa região praiana. “Saí do conforto do meu quarto e da minha casa para dividir espaço com pessoas que não conheço e de diversos países. Aos poucos fui acostumando com essa falta de privacidade. ”
Foi exatamente isso que fez ela acreditar que era possível. Tem que ser persistente, porque quando se quer alguma coisa tem que ir atrás, não pode desistir. Quase sempre não será fácil. O Colégio foi um apoio, um porto seguro para Victória. Ela ouvia sempre “vai, tenta, a gente tá aqui”. Além disso, foi através dos concursos, das olimpíadas de matemática, astronomia e tantas outras, que nos faziam acreditar que era possível e que estavam ao nosso lado. Victória nos conta que ela se inscrevia nas Olimpíadas pela oportunidade de contato com o mundo, com as lições e a aplicação dos conhecimentos aprendidos em sala de aula.
“O convívio com pessoas, lugares e com aprendizados diferentes nos faz aprender a viver em sociedade. O lema do João é “somos humanos”. Nós não víamos o Colégio como instituição, a gente via a Tina na secretaria, a Lu na portaria, as coordenadoras. Eu visualizava pessoas e não cargos e departamentos. Quando alguém tinha dificuldade em alguma matéria, o professor auxiliava. Se tinha alguma questão o psicólogo ajudava. Sempre foi uma relação muito transparente entre estudante e instituição. O mundo é bem grande e ultrapassa os muros da escola. O João acreditou em mim desde sempre e fez com que eu acreditasse em mim também, ressalta Victória.”
Os amigos que ela tem hoje são desde a época em que estudou no João. Ela fala empolgada que o Colégio é um lugar acolhedor e que apresentou o mundo para ela, assim como com a família, que ajudou a olhar para fora e que lhe incentivou nas primeiras amizades e viagens.
Ao finalizar a entrevista, Victória deixou um recado importante para os jovens que estão no ensino médio ou concluíram recentemente o Terceirão:
“Tá tudo bem terminar a escola e não saber qual curso fazer ou se é que vai fazer. O mais importante é ter objetivos na vida. Agarre todas as oportunidades, porque as vezes elas passam e não voltam. E, em alguns casos elas passam voando e a gente tem que ir correndo atrás. Em outras, elas aparecem e nada dá certo. Então, tenta de novo, manda outro e-mail, liga, se inscreve novamente, faz teu networking, fala com quem possa te ajudar e te proporcionar experiências que tu nunca imaginaste. Todas as pessoas têm algo a nos ensinar sobre o que fazer e não fazer em determinadas situações. Saiba filtrar e aproveitar ao máximo. E, para quem está se formando, mantenha a calma e busque seus sonhos. Nem sempre o mundo e as pessoas serão amigáveis. Tente manter o foco no objetivo e corra atrás!”
Por Renata Lages A. Eberhardt





