“Precisamos falar da potência do negro, fortalecer a criança, para depois trazer a narrativa histórica”, afirma Bárbara Carine no Seminário Educação em Tempos de Reparação

Foi um dia histórico! Cheio de afeto, conhecimento e de falas transformadoras para o público que assistiu à palestra da Professora Doutora Bárbara Carine, no auditório da UniRitter, na sexta-feira (18), o evento fez parte do Seminário Educação em Tempos de Reparação. Essa foi a primeira vez que a também escritora, autora de dez livros, esteve em Porto Alegre a convite de uma escola. E para a abertura do Seminário presencial, o público teve a oportunidade de conferir uma apresentação cultural, com a participação especial da Trilha “Batuca, João”, com estudantes do 6º e do 7º ano, que tocaram ao lado dos percursionistas Nílson Tokumbó Araújo e Nina Fola. Ao som dos tambores e do sopapo do Colégio João XXIII, a aluna do 1º ano do Ensino Fundamental, Luísa Helena fez uma apresentação de dança africana e encantou a plateia e a palestrante.

A Coordenadora do Núcleo de Formação, Ianne Vieira, foi a primeira a acolher os educadores presentes e teve a alegria de apresentar a atividade cultural preparada para a convidada. Após, convidou as Professoras Márcia Gomes (3º Ano do Ensino Fundamental) e Raíssa Lauana (Literatura) para chamarem Bárbara Carine ao palco. Márcia, que também é mãe da Escola e fundadora do Coletivo Antirracista do Colégio João XXIII, fez um discurso emocionante de abertura, citando o sonho que a comunidade escolar tinha em ter a presença da autora do livro “Como ser um educador antirracista”, obra que foi entregue de presente a cada Profissional da Escola no ano passado. “Sonhar também faz parte dos corajosos, pois, sem o sonho, nos distanciamos de nossos ideais. O sonho nos impulsiona nos caminhos sinuosos, nas curvas abruptas, nos momentos em que se faz necessário ter força para continuar. Sonhamos te encontrar, Bárbara, pois para seguir adiante, é importante parar, ouvir e viver o momento presente”.

Fortemente aplaudida, Bárbara Carine subiu ao palco para iniciar sua participação, abordando a importância da educação antirracista e da representatividade. Logo no início da sua fala, Bárbara, conhecida como @uma_intelectual_diferentona no Instagram, explicou que a escolha do nome foi devido a uma percepção que ela tinha sobre o olhar das pessoas, que a viam como alguém “diferente” no cenário acadêmico e educativo. Inspirada pelas perguntas frequentes que recebia sobre o tema, especialmente de educadores(as) brancos(as), Bárbara lançou o livro “Como ser um educador antirracista”, que está em 1º lugar na categoria Política Educacional da Amazon e acaba de ser indicado como um dos finalistas do Prêmio Jabuti 2024.

Em sua fala, a autora ressaltou que todos os trabalhadores dentro de uma escola têm o papel de educadores e, portanto, devem ser formados para atuar com consciência e sensibilidade para a diversidade. Ela apontou a importância de uma educação que aborde as questões raciais com uma perspectiva mais inclusiva e que promova o rompimento do alinhamento social em torno da centralidade branca. “A pessoa branca se vê representada em todos os professores, cientistas, autores e filósofos, projetando-se constantemente no lugar de poder”, frisou.

Bárbara também mencionou a necessidade de compreender o racismo estrutural, explicando que ele não se resume a um ato isolado ou reversível. Pelo contrário, é um problema sistêmico e profundo, refletido nas estruturas sociais e, até mesmo, no cotidiano escolar, em que crianças e jovens negros costumam se sentir desvalorizadas.

A palestrante compartilhou sua experiência ao vivenciar a descoberta dos conhecimentos ancestrais de seu próprio povo, ressaltando como essa reconexão afetou positivamente sua autoestima e autoconfiança e inspirou o desejo de construir uma educação que forneça às crianças e jovens a mesma oportunidade. Bárbara defendeu que a formação escolar deveria ser abrangente, tocando todos que fazem parte do ambiente – desde os professores até quem se encarrega dos processos administrativos. As práticas antirracistas, em sua opinião, passam por ações concretas, como a implementação de um currículo mais diverso e de políticas de inclusão no espaço escolar. No final, a Professora Bárbara Carine destacou que, para construir uma sociedade antirracista, é fundamental agir desde a Educação Infantil, criando um ambiente que fortaleça as crianças negras e respeite as diferenças sem estigmatizá-las.

Após, concluir sua fala, Bárbara recebeu perguntas enviadas pelo público que a assistia. O momento possibilitou uma troca significativa. Antes de se despedir, Bárbara conversou, autografou os livros e tirou fotos com as pessoas que fizeram questão de conversar e registrar o momento ao lado da convidada.

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