O Seminário Educação em Tempos de Reparação teve como palestrantes docentes e profissionais da Educação Básica do Colégio João XXIII, compartilhando por meio de relatos a apresentação de pesquisas, práticas e narrativas de trabalhos (concluídos ou em andamento) com enfoque na formação entre pares. Os trabalhos foram inscritos em eixos temáticos que dialogam com a reflexão sobre como podemos (re)construir a Escola. Para cada eixo foram selecionados trabalhos para apresentação oral. As pesquisas inscritas dialogaram com um dos eixos abaixo:
Conviver eticamente, em consonância com valores democráticos e o exercício da cidadania, é algo que pode ser aprendido (Parrat-Dayan)[1]. A escola, como fórum público, insere-se como espaço social por excelência para a promoção dessa aprendizagem e para o desenvolvimento da personalidade ética (Tognetta)[2] em sentido mais amplo, abarcando suas dimensões cognitiva, afetiva e moral (Vinha etal.)[3]. Ao tomar em mãos seu papel na formação integral de crianças e jovens, a aprendizagem de uma ética nas relações é compromisso pedagógico e político da escola, tanto para com as/os estudantes e demais membros de sua comunidade quanto para com o mundo partilhado para além dos espaços e tempos escolares. Este eixo busca colocar sobre a mesa (Masschelein)[4] o tema da convivência ética e democrática na escola e de sua prendizagem, dando-o visibilidade e convidando os participantes a refletir sobre práticas realizadas na/pela comunidade escolar e de marcos teóricos que as sustentam.
[1] PARRAT-DAYAN, Silvia. A discussão como ferramenta para o processo de socialização e para a construção do pensamento. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 45, p. 13-23, 2007.
[2] TOGNETTA, Luciene. A formação da personalidade ética: estratégias de trabalho com afetividade na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2009.
[3] VINHA, Telma; NUNES, Cesar; SILVA, Livia Maria; VIVALDI, Flavia; MORO, Adriano. Da escola para a vida em sociedade: o valor da convivência democrática. Americana, São Paulo: Adonis, 2019.
[4] MASSCHELEIN, Jan. Fazer escola: a voz e a via do professor. In: Elogio do professor.
LARROSA, Jorge; RECHIA, Karen Christine; CUBAS, Jaqueline Jaques. Belo Horizonte: Autêntica, 2021
Gênero e sexualidade são temas presentes na Educação desde sempre; entretanto, os diálogos sobre esses dois eixos estão atrelados a um olhar contemporâneo para a Educação e para os corpos que ocupam o espaço educacional. Ao refletir essas questões a partir do diálogo sobre gênero e sexualidade na Educação proposto por Guaraci Lopes Louro, assim como os debates suscitados por Judith Butler, bell hooks, Audre Lord, Lélia Gonzales, Teresa de Lauretis e Paul B. Preciado, este Seminário problematiza a urgência de falarmos sobre essas questões no ambiente educacional. Nele, portanto, pretende-se construir um espaço para trocas de práticas, bem como o compartilhamento de erros, acertos e tensões para a reparação de uma Educação em que se deve fazer mais do que apenas dizer. Assim, propõe-se as seguintes questões: quais mecanismos a docência têm buscado para a compreensão da expressão-vida do corpo discente? Como docentes permitem se expressar dentro desse espaço que os coloca em um local de vulnerabilidade frente às diferenças?
A proposta teórica que inspira este eixo temático, a partir das contribuições de John Dewey (a aprendizagem como experiência) e Jorge Larrosa (a experiência e o saber da experiência), busca refletir sobre o significado das experiências vividas na Escola, oportunizando os direitos de aprendizagem de crianças e jovens. Nessa perspectiva, o eixo indaga sobre o lugar da experiência na Escola. A ação docente, a organização curricular, os espaços e os tempos constituem contextos que acolhem e instigam as experiências cotidianas das crianças e jovens, suas linguagens e seus saberes, articulando-os aos conhecimentos que a humanidade já sistematizou e que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológico? A Escola é um lugar de encontro que promove a experiência singular, plural e compartilhada de aprendizagens, enquanto construção permanente de sentidos e significados sobre a vida? Na direção de pensar e promover uma Educação pela experiência, em contraponto à mera transmissão de conhecimentos, este eixo intenciona problematizar, investigar e socializar práticas pedagógicas abertas à experiência fascinante de aprender, protagonizada por crianças, jovens e docentes.
Em Educação dominamos muito bem as linguagens da teoria, ou da prática, ou da crítica. A linguagem da Educação está cheia de fórmulas provenientes da economia, da gestão, das ciências positivistas, de saberes que fazem tudo calculável, identificável, compreensível, mensurável, manipulável. Mas talvez nos falte uma língua para a experiência. Uma língua que esteja atravessada de paixão, de incerteza, de singularidade. Uma língua com sensibilidade, com corpo. Uma língua também atravessada de exterioridade, de alteridade. Uma língua alterada e alterável. Uma língua com imaginário, com metáforas, com relatos. Qual seria essa língua? Em que linguagens se elabora e se comunica a experiência? Ou, mais fundamentalmente, pode-se comunicar a experiência? Fonte: Experiência e alteridade em educação – Jorge Larrosa
Este eixo contempla a possibilidade de compartilhar experiências, vivências e/ou projetos desenvolvidos com vistas a oportunizar o direito de aprendizagem a todas as crianças e jovens do Colégio João XXIII. Tal qual afirma Carlos Skliar, “o(a) professor(a), na sua vontade de incluir o outro, não deveria se perder nos labirintos dos nomes, das técnicas e dos saberes inventados”, e complementa: “eu lhe diria que se aproxime das experiências que são dos outros […], falo de abertura enquanto uma outra disposição política do si mesmo (antes repetido, fechado) para o outro, ou seja, de um abrir-se para o que vem do outro, abrir-se para a existência do outro”. Por meio de exemplos do cotidiano, tais como a redução de barreiras físicas e sociais, a acessibilidade, o uso da comunicação aumentativa alternativa e assistiva, a arquitetura pedagógica, a flexibilização curricular e a avaliação, explicitamos o convite para compartilhar práticas que revelem a intencionalidade, o aprimoramento e a construção do conhecimento em práticas relativas à educação inclusiva. Assume-se a perspectiva de pensar, tal qual afirma Skliar, que “não há mudanças educativas num sentido amplo, significativo, sem um movimento da comunidade educativa que lhe outorgue sentidos e sensibilidades”. Como comunidade educativa, oportunizamos um espaço para apresentação de pesquisas em andamento e para o compartilhamento dos inúmeros desafios dessa caminhada que não deseja apenas o acesso, mas a inteireza da experiência educativa.
A necessidade de uma política institucional e de um currículo voltado para a Educação Étnico-Racial é o pressuposto fundamental deste eixo, que a considera importante para a promoção da inclusão, da reflexão crítica sobre o racismo estrutural e da valorização da diversidade cultural nas instituições de ensino. Este eixo temático busca a discussão e problematização dos avanços e dos desafios na implementação de políticas, currículos e práticas que efetivem uma educação antirracista e, assim, democrática. A provocação evocada por Bárbara Carine fala sobre a intencionalidade do compartilhamento de pesquisas em andamento na escola: “A escola é o espaço de formação humana por excelência; ela é um complexo social fundamental na nossa constituição, tanto no âmbito social, pensando na coletividade, quanto no aspecto individual, a partir da nossa construção subjetiva. A escola é um complexo social fundamental no processo de transformação da realidade social; ela é influenciada pelo sistema, ao passo que, em contrapartida, também o influencia, uma vez que forma as pessoas que vão ocupar e ajudar a construir todas as demais instâncias”. As práticas em andamento no cotidiano da escola são um convite para a celebração da diversidade nos currículos e nas práticas escolares, abrindo-se às múltiplas formas de ser e de existir.