O recente tema do Enem, “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”, destaca a necessidade urgente de discutir a herança cultural e histórica africana no contexto brasileiro. A educação antirracista emerge como um elemento fundamental nesse processo, oferecendo um espaço seguro e inclusivo onde os alunos podem compreender e valorizar a diversidade cultural do país. O Colégio João XXIII vem construindo ao longo dos últimos anos, uma abordagem que sistematiza e orienta os diferentes saberes para uma ética do cuidado e da solidariedade, especialmente no que se refere às questões raciais. Tratar do combate ao racismo, assim, não se configura na Escola como algo transitório, mas como um permanente processo do percurso formativo.
Uma educação antirracista busca desmantelar essas barreiras, promovendo um currículo que reconheça e celebre as contribuições africanas e afro-brasileiras. Isso inclui a incorporação de conteúdos sobre a cultura, a literatura, a música, as tradições e a história dos povos africanos e seus descendentes no Brasil. Ao fazer isso, as escolas não apenas educam, mas também empoderam os alunos, ajudando-os a se tornarem agentes de mudança em suas comunidades. Ao mesmo tempo, realizam um combate ao apagamento das ancestralidades que, sistematicamente, ocorreu devido ao racismo estrutural.
Confira o depoimento de alguns docentes e estudantes do Ensino Médio que realizaram a prova:
“Os estudantes da 3ª Série do E.M. do Colégio João XXIII, ao longo de sua trajetória, tiveram, no currículo escolar, uma educação voltada para as relações étnico-raciais como um compromisso de todas as áreas de conhecimento, seja no enfrentamento ao racismo, seja na valorização da contribuição dos africanos para a formação cultural e social do país. O Terceirão, inclusive, prepara-se para receber o escritor Jeferson Tenório em função do projeto do eixo integrador, que envolve Língua Portuguesa, Redação, Literatura e Filosofia, intitulado ‘O que se esconde por trás da censura a livros literários?’. As turmas terão um encontro neste mês para debater a obra “O avesso da pele”, leitura obrigatória do vestibular da UFRGS a partir de 2024.” Aline Braga, Professora de Língua Portuguesa.
“Na minha redação do Enem, eu lembrei de uma aula de História que tivemos na 1ª Série do Ensino Médio em que o Professor contou que o carnaval foi censurado no Brasil, na época da Ditadura Militar, porque era coisa de ‘vagabundos’. Os ‘vagabundos’, esses, eram os africanos, que é quem construiu o carnaval brasileiro, como é nos moldes atuais. Também citei a Lei 10.639, que garante a educação sobre a população negra no Brasil e suas origens na África.” Lorenzo Farias, estudante.
“O tema da redação do Enem 2024 pode não ter sido uma surpresa para os estudantes do João XXIII, pois estamos muito conectados a essa proposta pedagógica, principalmente em projetos e Seminário (Educação em Tempos de Reparação). A busca por uma sociedade mais justa já faz parte do nosso currículo. Na disciplina de Redação das primeiras séries do Ensino Médio, trabalhamos muito o repertório, a autoria e as citações. Tenho certeza de que muitos dos estudantes que se inscreveram como treineiros não tiveram dificuldades nessa competência em razão do incentivo literário. Não basta apenas cumprir uma legislação, mas trazer para nosso currículo a valorização e o respeito.” Andréa Machado, Professora de Português e Redação.
“O tema proposto é um olhar para a nossa prática pedagógica enquanto professores e de perceber os erros e acertos que a gente está cometendo, e até para os(as) estudantes perceberem por que ele aprende determinadas coisas. Quando o Enem aborda o tema, é como se a gente tirasse uma venda dos olhos. Ter milhões de alunos falando sobre essa temática e a gente “descobre” que essa é uma problemática não solucionada ainda. E que, em algumas salas de aula, os alunos não vão ter repertório para falar sobre isso. E se eles não têm repertório, por que isso acontece? E, aí, a gente começa a se questionar de forma ampla: que educação está sendo promovida em sala de aula? Nossos alunos estavam extremamente preparados. Esse é um projeto gigantesco da Escola, começa já na Educação Infantil”. Raíssa Lauana, Professora de Literatura.
“O tema da redação do Enem deste ano não poderia ter sido melhor, principalmente por ser tão relevante na sociedade brasileira. Somos um povo muito diverso, com muitas culturas que também precisam ser valorizadas. Ambos os repertórios que usei vieram de estudos do Colégio nesse último ano. Um deles foi o livro “O Avesso da Pele”, que estamos trabalhando em Literatura e Português. O livro fala de questões raciais e familiares e, pra mim, foi o repertório perfeito. Também falei de paradigma colonial, foco de uma das redações que fizemos neste ano com a professora Aline.” Júlia Muñoz, estudante.