Jeferson Tenório fala sobre racismo, afetos e a luta pela representatividade na literatura durante encontro no Colégio 

Jeferson Tenório é autor de O Avesso da Pele, vencedor do prêmio Jabuti 2021 e incluído como leitura obrigatória do vestibular 2025 da UFRGS

O escritor Jeferson Tenório, autor de O Avesso da Pele, esteve na manhã do dia 11 de novembro no Colégio João XXIII, onde refletiu sobre a luta contra o racismo, a importância da literatura na conscientização social e a experiência de ser uma pessoa negra em um Brasil marcado por profundas desigualdades. O evento, mediado pelos alunos Lorenzo Farias e Julia Muñoz, teve a presença de estudantes do Ensino Médio, que participaram ativamente da troca de ideias com o autor. O Avesso da Pele foi incluído como leitura obrigatória do vestibular 2025 da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 

Durante o encontro, Tenório destacou a persistência do racismo estrutural e como ele se manifesta em diferentes contextos da sociedade, desde as abordagens policiais até as relações interpessoais. Para o escritor, a percepção de que pessoas negras são uma ameaça está profundamente enraizada no imaginário coletivo, construído a partir de estereótipos que as associam pessoas à criminalidade. “As pessoas negras são vistas com desconfiança e medo. Isso é reflexo de um racismo que se alimenta de imagens distorcidas e narrativas que ainda influenciam nossa sociedade”, afirmou. 

Ao ser questionado sobre sua obra, especialmente seu novo livro, De Onde Eles Vêm, Tenório falou sobre o processo de reflexão e experimentação com as relações raciais. Ele enfatizou que, embora o racismo seja um tema urgente, a literatura não deve ser limitada a essa questão. “Enquanto houver uma sociedade racista, é necessário continuar falando sobre isso, mas a literatura também precisa ser um espaço para outras histórias”, disse. Tenório também comentou sobre a pressão que escritores negros frequentemente enfrentam para representar exclusivamente as questões raciais em suas obras, destacando que estes têm o direito de escrever sobre tudo, não apenas sobre o racismo. 

A descoberta da política de identidade pelos jovens foi outro ponto discutido pelo autor. Ele fez referência a uma cena de O Avesso da Pele em que o protagonista, após um encontro com um professor de Sociologia, percebe que sua identidade racial não pode ser ignorada em uma sociedade tão marcada pelo racismo. “É importante que os jovens negros entendam que sua identidade é política, mesmo que não queiram. Eles são racializados pela sociedade, e isso afeta suas experiências e oportunidades”, refletiu. 

A relação entre afetividade e política também foi abordada por Tenório. Ele destacou a dificuldade que muitos jovens negros enfrentam ao se envolver em relações interraciais, especialmente quando o racismo começa a se manifestar nas dinâmicas desses relacionamentos. “É fundamental que, na política do afeto, a luta contra o racismo não se sobreponha ao amor. O amor não pode ser apenas uma questão política, mas uma vivência cotidiana, em que o respeito mútuo e a empatia prevaleçam”, afirmou. 

Outro momento marcante do encontro foi quando a aluna Manuela Raimann presenteou Tenório com dois quadros de sua autoria. As duas obras, ao se unirem, formam uma pintura única, simbolizando o respeito e a admiração pela obra do escritor. Esse gesto de carinho e reconhecimento emocionou Tenório, que recebeu a homenagem com gratidão. 

O evento também foi prestigiado por integrantes da Comissão Antirracista, que presentearam o autor com uma camiseta do grupo. Na ocasião, Tenório recebeu da Direção Pedagógica um exemplar da recém-lançada revista Lugarejo. Roger Machado, pai na Escola e técnico do Sport Club Internacional, também esteve presente na palestra. 

O escritor concluiu destacando o papel fundamental da Literatura na promoção da conscientização racial e da identidade negra. “A literatura pode ser um caminho para entender nossas histórias e nossas lutas. Ela é um espaço vital para discutir o que é ser negro em uma sociedade que ainda vive com as marcas do racismo”, disse. Ao final do evento, participou de uma sessão de autógrafos, momento em que interagiu diretamente com os estudantes.

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