Por onde anda… 

… a ex-estudante Julia de Mattos Dutra 

Atualmente a Julia de Mattos Dutra, conhecida artisticamente como Julia Trespalier, é escritora, produtora audiovisual e fotógrafa. Ela tem trabalhado para editoras independentes, nos editais das antologias dos contos de suspense e terror. Ela também é sócia da produtora “Escritório Assombrado”, nome escolhido justamente por envolver terror, suspense e ficção científica. Inclusive ela teve 7 contos selecionados para integrarem antologias com essas temáticas. E entre as editoras para quais ela escreve, uma delas quer contratá-la para fazer também as revisões de textos. Para isso, ela está fazendo cursos de produção editorial para trabalhar com livros.  

“O ramo editorial é bem abrangente, porque permite ser virtual, ao contrário da produção de audiovisual que é tudo presencial, porque é preciso estar no set de filmagem. Então, eu posso receber textos que são do Nordeste, do Rio, de São Paulo ou de qualquer lugar, morando em Porto Alegre. Isso me abre um leque de possibilidades de trabalho”, diz Julia. 

Em relação à carreira no futuro, ela ainda tem dúvidas, porque se formou em Realização Audiovisual na Unisinos no início de 2024. A expectativa que tinha sobre o audiovisual não se confirmou e ela percebeu que era muito difícil trabalhar com arte. 

“No João, o aprendizado que tive na área artística foi muito boa, mas fora eu sofri um grande impacto, porque sou muito nova. Eu sabia que era o que eu amava fazer, de estar atrás das câmeras. Eu tenho uma visão muito sensível sobre as coisas, todo mundo sempre me diz isso. Eu nunca pensei em desistir dessa área, mas talvez precise realinhar minha rota, onde eu consiga ter outras experiências além do audiovisual”, ressalta Julia. 

A fotografia de estúdio também é uma possibilidade para nossa ex-estudante. Trabalhar com horários marcados, permite que ela se organize melhor e consiga dar atenção à produtora e à edição e revisão de textos. E, esse amor à escrita vem dos tempos de João, quando fez cursos de escrita criativa com a professora Raquel e de produção de roteiros. 

“O João ajudou na construção da minha personalidade, porque me permitiu ser quem eu sou. E o Colégio sempre respeitou cada um do jeito que é. Eu gostei muito de não precisar usar uniforme no ensino médio e ter a liberdade de me vestir como quisesse. E isso contribuiu para minha formação como pessoa e como profissional, porque o que era um hobby escrever, editar, roteirizar e fotografar, tanto que isso se tornou o que faço agora”, reflete a Julia. 

Ela destaca que se sentia valorizada no João, e que talvez em outro colégio ela não tivesse essas oportunidades ou espaços para se desenvolver. O João foi o primeiro e único espaço escolar que frequentou. Ela entrou em 2006 no Nível, na turma ND e saiu em dezembro de 2019, no Terceirão, antes da pandemia. 

“Lembro que na Educação Infantil eu era muito ansiosa porque nunca tinha ido pro colégio antes e as professoras me ajudaram bastante. No início a adaptação foi bem complicada e lembro que a Dada foi como uma segunda mãe para mim. Eu tenho muito carinho por ela. Eu gostava muito de desenhar – influência da minha avó que pintava – e de brincar com as bonecas. Era mais quietinha, mas sempre tive um lado artístico desde pequena.” 

A transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental foi tranquila e ela diz que a maioria das amigas foram com ela para o 1º ano do EF o que facilitou a adaptação na nova etapa. Nos anos iniciais ela lembra que passava muito tempo no Colégio, como se fosse sua segunda casa. 

“Eu vinha para o Joãozinho Legal pela manhã e ficava para a aula de tarde e podia interagir e conviver com colegas de outros anos e isso era muito legal. Essa mistura me proporcionou fazer amizades que não teria normalmente.”

A partir do 7º e 8º ano do EF, foram marcantes para a Julia porque ela fazia aula de canto e de bateria na Toque Musical. Naquela época ela tinha uma banda no João e tocava bateria. Com a banda participou dos Festivais de Música do Colégio. Esse lado artístico estava muito presente, tanto que estuda até hoje a influência da música na moda e nos movimentos pop dos anos 80. Ela afirma que tudo isso impactou a vida dela. Assim como a passagem do EF para o EM. Mais uma transição que veio com várias mudanças, porque alguns colegas foram trocados de turma e ela ficou com apenas uma de suas amigas. Ela diz que de certa forma o EM uniu a turma e a despertou de vez para o audiovisual. 

“No primeiro ano do ensino médio teve os curtas e acho que foram eles que me despertaram a vontade de fazer produção de audiovisual. Em grupo, dividíamos as tarefas e eu ficava na direção e acabava me envolvendo em todas as etapas, principalmente na produção do roteiro e na coordenação geral. E foi essa experiência que me levou para esse caminho.”

Outra vivência que influenciou a vida dela, foi no intercâmbio para Londres, quando precisou se desprender da rotina que tinha seus meus pais para conseguir desenvolver sua autonomia. 

“Quem puder fazer intercâmbio, aproveite porque vale muito a pena. É diferente e interessante porque foge da rotina normal de um adolescente. Eu voltei com a percepção de que podia viver sozinha. Porque quando estamos longe da família, temos que ter responsabilidade e cuidado com as nossas coisas. Fiquei mais atenta e voltei mais madura.” 

A produtora audiovisual também se aventura pela fotografia. Ainda no EM ela fez dois cursos livres de fotografia na Escola Câmera Viajante e realizava alguns trabalhos para os colegas. E uma das experiências foi fotografando os jogos Interséries e o Festival de Música. Com isso, ela tornou-se referência no Colégio, quando o assunto era fotografia. 

“Quando eu cheguei hoje no Colégio para dar a entrevista, o Jorge perguntou se eu ainda trabalhava com fotografia. O João oportunizou diversos momentos para que eu pudesse me desenvolver como fotógrafa. Inclusive alguns colegas me pediam ensaios fotográficos fora do Colégio e eu já cobrava um valor simbólico pelo meu trabalho. Ao mesmo tempo que eu queria crescer, tinha medo desse espaço novo que era o ensino médio.”  

A Julia sempre esteve envolvida em todos os projetos do João. Ela lembra com carinho da professora Raquel, embora não tenha sido sua professora de português, foi com ela que iniciou no mundo da escrita criativa. Além dela, destaca também os professores Rogério e Arthur, os quais se tornaram referência para ela, assim como a Paula Poli.  

“Eu aproveitei todas as oportunidades que o João deu para desenvolver minhas habilidades, principalmente com os Clubes. Lembro de participar do Clube de Química com a Paula no último ano do ensino médio. Apesar de ser muito artística, acabei indo para o Clube de Química porque eu gostava da Paula e da disciplina de química.”

Ao sair do Colégio e fazer o primeiro vestibular na Unisinos, lembrou de todos os ensinamentos dos professores e foi aprovada para cursar a graduação de Realização Audiovisual. No primeiro ano da faculdade ela teria que ir todos os dias para São Leopoldo, mas em razão da pandemia, as aulas foram todas online. Quando as aulas voltaram ao presencial, o campus da Unisinos de Porto Alegre passou a oferecer o curso e ela conseguiu cursar o último ano de forma presencial. 

Na faculdade, Julia fez amizades e uma delas inclusive é sua parceira num projeto inscrito na Lei Rouanet. Ela destaca a dificuldade em fazer stop motion no país e que elas estão buscando recursos para viabilizá-lo. Ainda na faculdade, ela fez estágio numa Associação do Rio de Janeiro, onde transcrevia textos que seriam utilizados em produções de matérias com profissionais do audiovisual. Ela também trabalhou como assistente de produção de objetos para uma minissérie, aqui em Porto Alegre. Outra experiência marcante foi quando deu aula de direção de arte, no curso de cinema para escolas públicas. 

“Foi uma experiência emocionante e divertida. Me senti bem ao estar do outro lado como professora. Eu não pretendo fazer mestrado e doutorado por enquanto, mas penso em fazer uma graduação em Letras – Licenciatura, porque vai me ajudar muito no ramo literário, além de ser um backup caso precise trabalhar efetivamente como professora. Isso foi uma das coisas que aprendi, ter sempre um olhar amplo.”  

Por Renata Lages A. Eberhardt