Música, poesia, oficinas, bate-papos e exposições marcam o encerramento da Jornada Literária no Colégio João XXIII.

Era um sábado de sol, havia uma brisa suave que alcançava o rosto, e as folhas secas anunciavam o outono em Porto Alegre quando o Colégio João XXIII recebeu a comunidade escolar pela primeira vez em um evento durante pandemia. A atividade letiva marcou o encerramento da Jornada Literária, que ocorreu de 10 a 14 de maio. A banda J23, sob a coordenação dos professores Isac Soares e Lucas Kinochita, deu as boas-vindas logo no início da manhã, em uma apresentação que envolveu estudantes e professores.

As crianças da Educação Infantil ficaram hipnotizadas com a contação da divertida história “O Super Urso, protagonizada pelas professoras no pátio de areia. Num clima de alegria, o professor de Música, Bob, colocou todos para dançar ao fim da apresentação. Quem circulou pelo espaço pode conferir ainda outras atividades, como “O Lenço: Exploração da História e Brincadeiras com Tecidos”, “Não é uma Caixa: Exploração da História e Brincadeiras com Caixas” e “Mix It Up” (misture, em tradução livre), uma contação de história bilíngue.

A pracinha, tão apreciada durante a semana, foi um convite às brincadeiras, como o foguete reciclável produzido pelos pequenos da turma NB de 2019, e ressignificado com as crianças no ano passado. No Gazebo Ipê Roxo, os pequenos e suas famílias participaram da oficina de construção de fantoches, proposta pela equipe do Joãozinho Legal. Por meio da criatividade, diversos materiais foram transformados, dando vida a novos personagens e histórias.

As mostras de trabalhos que estavam em exposição despertaram a curiosidade da comunidade escolar, que compareceu em peso ao Colégio. Foi possível percorrer o Corredor dos Armários e caminhar pelas experiências sensíveis das aulas de Arte do 6º ao 8º ano, que, por meio de diferentes técnicas, expressaram seus estudos. Ali mesmo, a trilha sonora era do 9º ano: foi nesse espaço que compartilharam suas composições musicais e suas leituras de crônicas.

No caminho para a Biblioteca, era possível desvendar a investigação, realizada pelo 7º ano, de mistérios famosos que marcaram a nossa história, inspirados por um personagem que habita nosso imaginário, o Sherlock Holmes. Ao se aproximar da Biblioteca, o 6º ano, com estudantes e famílias, invadia aquele espaço para ler junto, lado a lado, e para compartilhar dicas de leitura, atividade que acontece semanalmente neste espaço.

No Gazebo do Meliponário, ao lado da Biblioteca, e em diferentes recantos verdes do João, os alunos do 8º ano expuseram “A Vida Secreta das Árvores”, projeto feito a partir da obra de mesmo título de Peter Wohllebem. Este também foi o espaço dedicado para que o 8º ano fizesse seu canto e suas “Ideias para adiar o fim do mundo” ecoarem no João. Uma apresentação musical e um bate-papo sobre a obra de Ailton Krenak potencializaram uma rede de trocas e reflexões entre estudantes, docentes e famílias.

Entre escritas e desenhos

As crianças do 1º ao 5º ano compartilharam seus registros, experiências e explorações a partir das práticas literárias vividas no cotidiano da Escola. O 1º ano compartilhou diferentes propostas realizadas a partir do livro “Alfabarte” e algumas brincadeiras e jogos envolvendo as rimas dos nomes das crianças. O 2º ano organizou um espaço interativo chamado “Rimando no escuro”, onde as crianças puderam explorar, ao longo da semana, uma experiência lúdica e divertida, com lanternas e palavras escondidas.

A oficina “Lápis Encantado”, inspirada no livro de mesmo nome de Leo Cunha, deixou a sala de música mais colorida. Lá, os alunos participaram de atividades de arte cuja proposta era soltar a imaginação. O ambiente da floresta africana encantou a todos com o espaço “Histórias Africanas para contar e recontar”, organizado pelas crianças do 3º ano, com cenários construídos a partir de massinha de modelar, pesquisa de alguns animais africanos e a criação de hipóteses sobre cada personagem.

Mergulhados no universo do livro “Edith”, de Lázaro Ramos, as crianças do 4º ano exploraram o universo das vantagens e desvantagens da tecnologia com a temática “Só faz sentido o que é sentido”. Junto à Biblioteca, os alunos do 5º ano tiveram a oportunidade de apresentar seus Contos de Artimanhas escritos em aula. “Vale ressaltar que tudo que estava exposto e foi apresentado faz parte do que é trabalhado em sala de aula. Tivemos um retorno muito positivo das famílias sobre a apropriação das crianças em relação às propostas, evidenciando seu protagonismo diário dentro do ambiente escolar”, afirma a coordenadora do 1º ao 5º ano, Amanda Eccel.

Inspiração vinda da literatura

Ao lado do palco central, foi montada uma tenda verde, que chamou atenção dos visitantes. Tratava-se de mais um projeto criativo, chamado “Uma declaração de amor à terra”, elaborado pelos estudantes da 2ª série do Ensino Médio, para apresentar os trabalhos envolvendo a leitura do livro “Torto Arado”, do autor baiano Itamar Vieira Júnior. Algumas exposições com fotos retratavam os adolescentes com o instrumento que dá nome à obra – espécie de uma faca – e que simboliza as permanências do passado colonial e as marcas da escravidão, fundantes da formação da sociedade e do Estado brasileiro, bem como de suas mazelas e desigualdades.

No mesmo espaço, a comunidade escolar foi convidada a uma experiencia sensorial ao tocar e sentir o cheiro dos elementos da terra: café, dendê e terra. Objetos musicais indígenas estavam expostos para quem quisesse experimentar a sensação de ouvir como era o som dos povos originários do Brasil.

A alguns metros dali, os vidros do lado de fora da Biblioteca viraram galeria de arte a céu aberto para os trabalhos dos estudantes da 1ª série do Ensino Médio. Cada um elegeu seu clássico favorito da literatura, e os trabalhos ainda estão expostos para quem quiser conferir. Vale a pena a leitura!

Mel e Dendê

A manhã terminou com um bate-papo regado a poesia, humor e representatividade no palco central, próximo à Cantina, onde a poeta, compositora e ativista social Fátima Farias divulgou o lançamento do seu primeiro livro solo. Em “Mel e dendê, a autora reúne poemas e alguns sambas, talento que herdou do pai, o também compositor e poeta Estanislau Farias. A roda de conversa terminou com a apresentação do professor de Música, Lucas Kinoshita, que homenageou ao som do sopapo o cantor, compositor, percussionista e ativista cultural brasileiro Giba Giba.